De passagem

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Há os que vêm e voltam sempre. Os que ficam. Os que são de cá. Os que nos visitam ao fim-de-semana, que ao domingo engrossam as filas da Piriquita para os eternos travesseiros e que olham com deslumbre esta Sintra, património de todos nós. E depois, há os outros, os que estarão sempre de passagem.


Deles ouvimos muitas vezes que Sintra é única. Concordo. Património da humanidade, Sintra não encontra par no que respeita à paupérrima oferta cultural. Dito de outra forma, é singular a escandalosa ausência de uma programação, pincelada  aqui e ali por alguma gente bem intencionada que vai tentando fazer os milagres acontecer.


É única porque, orgulhosamente bela, da altivez da sua Pena, conserva pacientemente a dignidade, como se a indiferença fosse a única resposta para quem deveria cuidar dela e o não faz. Sintra resiste, porque tem mais encantos… Mais do que a percentagem de cabotinismo, inércia e negligência de todos aqueles que, até hoje, tiveram a vaidade de pensar, e por aí se quedaram, estar à altura de cuidar de um património pertença de todos nós.


Sintra é conhecida pelas paixões que sempre despoletou em escritores e poetas  que a eternizaram. Mas em Sintra não há livrarias. Comprar ou ler, só mesmo nos arredores. Sintra tem uma biblioteca municipal num espaço físico de excelência, mas a sua actividade, contrariamente à das bibliotecas dos concelhos vizinhos,  assemelha-se à de um moribundo em agonia. A sala de conto, onde as crianças podiam ir ao fim-de-semana, faleceu. Certamente, algumas cabeças pensantes consideraram "não  justificar" pagar às duas animadoras que ali faziam um trabalho de excelência.  

Com o à vontade próprio das cabeças pensantes, corremos o risco de, daqui a alguns anos, aparecerem por cá, de passagem, pararem na Piriquita para matar saudades do travesseiro e contemplarem, felizes, a obra que deixaram. Porque o risco é real, louvamos iniciativas como a do poeta Filipe de Fiúza, que aqui partilhamos.


A nós, os que somos de cá, resta-nos a opção de continuarmos cidadãos conscientes do pouco que temos e do muito que nos faz falta.

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