Sintra Caprichosa
terça-feira, 29 de junho de 2010
Para quem ache que o nevoeiro adensa o mistério, há já três dias que Sintra anda bem misteriosa! O sol não nos visita e a serra está envolta por um manto branco em que quase conseguimos tocar.
Para quem ache que o nevoeiro adensa o mistério, há já três dias que Sintra anda bem misteriosa! O sol não nos visita e a serra está envolta por um manto branco em que quase conseguimos tocar.
Em época de crise, nada parece escapar, nem o tempo. O Verão chegou há dois dias, mas pobrezinho. Pelo menos, aqui por Sintra. O sol acorda tarde, não fica por cá o dia todo, o vento continua a fazer-lhe companhia a espaços e o calor, nem por isso…Mesmo assim, o Chá de Sintra foi à praia. Voltámos à Praia Grande!
Em Abril, mostrámos aqui como a Praia Grande se tinha transformado, como a areia tinha sido engolida pelo mar, deixando a descoberto rochas e rochedos. Em suma, como a praia estava pequena! Na altura, embora confiando que o mar devolvesse alguma areia, já achávamos que dificilmente se passaria sem intervenção humana para resgatar a nossa praia. Desde então, de quando em vez, passamos por lá. Tomamos um café, damos uma espreitadela, ouvimos opiniões de quem ali trabalha há muitos anos. E as nossas suspeitas quase viraram certezas. O mar não só não devolveu a areia que tirou, como teimosamente, parece persistir em ir tirando mais. A Praia Grande está efectivamente pequena.
O Verão chegou ontem e ontem foi também o dia mais longo do ano. Por isso, hoje tinha decidido falar de praia. Mas como falar de praia, assunto desprovido de qualquer relevância para as nossas vidas, quando comparado com a festa em que o país mergulhou e navegou? Ontem, foi o dia dos SETE! O número de golos com que a nossa fantástica selecção despachou para casa os pobres jogadores coreanos, orientados por um seleccionador que tinha achado o primeiro jogo dos portugueses, “um grande aborrecimento”. Ora, pois, só quem não nos conheça mesmo… podemos ser muitas coisas, como melancólicos, saudosistas, ou mesmo, descrentes e maldizentes, mas aborrecidos? O resultado está à vista e se há coisa que não se pode negar é que o jogo de ontem foi uma animada festa, um enorme divertimento, daqueles a que nem estamos habituados. Eu falo por mim, pois entre os festejos de tanto golo até tive algumas dificuldades em tomar o cafezito que se passeava na chávena. Tenho uma amiga que até já achava demais, chegou a ter pena dos coreanos e a manifestar preocupação com o que os aguardará à chegada…Mas isso não nos diz respeito, o que interessa é que foram sete golos e larguíssimos minutos de alegria! Repararam bem naquele golo do nosso Cristiano? O mundo viu como a bola deslizou por entre as costas e a cabeça do rapaz? Pensam que isso aconteceria em qualquer outra cabeça? Claro que não! Nem em 10 mundiais, o Messi conseguiria semelhante proeza!
Mas os sete golos com que brindámos os coreanos, e que à noite já eram para aí uns trezentos, tantas as vezes que foram repetidos nas nossas televisões, trouxeram-nos alguns incómodos.
É que os golos foram marcados por aquele grupo de rapazes que não foi lá fazer nada, à África do Sul, entenda-se, e que são orientados por aquele “professorzeco” que nada percebe de futebol. Também, aqui para nós, não lembraria ao diabo, ir buscar um professor para treinar a nossa selecção! Ainda para mais, logo a seguir àquele santo popular, o Scolari. Aquele que depois de ter pedido para estenderem e desfraldarem as bandeirinhas, ficou a um passo da beatificação. Ainda hoje estou convencida que a mesma só não ocorreu, porque o homem, para além de não ser burro, também não era de ferro, e quando as coisas não corriam bem, em vez de falar de talas e do estado da relva, acertava um soco aqui e uma chapada acolá, bem mais ao jeito português! Tinha ao seu dispor a melhor selecção dos últimos tempos, mas nunca ganhou nada! A sorte do professor é que os gregos já foram para casa, porque se perdesse um jogo com eles, quase que o aconselhava a voltar, mas com os coreanos! Mas o São Scolari tinha fé! Nas horas vagas, rezava e pedia à Nossa Senhora do Caravaggio, certamente prima da nossa Fátima, para que os rapazes não o deixassem mal visto. E quer queiramos, quer não, isso traduzia-se numa grande sintonia com a maioria dos fervorosos adeptos, que sempre acaba por achar que quando Portugal não ganha, Deus só pode estar de férias ou a castigar-nos pelas malfeitorias dos nossos governantes. Ultimamente, Deus tem mais outra forte razão para nos castigar: fomos buscar o Carlos Queiroz.
Bem, dizia eu, que os golos também nos trouxeram incómodos. Esta sim, é uma sina muito nossa, nunca conseguimos usufruir das coisas na sua plenitude! Pois é, imaginem o dilema de todos aqueles, e são muitos, entre jornalistas, comentadores, “opinadores”, treinadores de bancada e mesmo de banco, que até hoje não conseguiram conter a discordância, o fel, a dor de cotovelo, ou mesmo a frustração por não terem uma profissão bem sucedida ou tão fantástica como esta, em que só tem de se adivinhar a melhor forma de os rapazes acertarem na baliza. Ainda por cima, muito bem paga e sempre se aparece todos os dias na televisão.
Quanto mais penso neles, e são tantos, mais me pareço com o seleccionador coreano! É que sinto um aborrecimento… coitados, como vão eles conseguir organizar o discurso que há meses lhes sai tão fluente? Vistas as coisas, não sei se este foi um bom resultado para o país. E muito menos para o Professor. É que, a partir de agora, aqueles “malandros que não se esforçam nem correm”, e quando o fazem é à frente e não atrás da bola, mal orientados e pouco disciplinados por um homem que não reza a virgem nenhuma, são os maiores! Ah, pois é! Quando querem, são os maiores! Ninguém já tem dúvidas sobre quem leva a taça! Ai deles que não sejam os últimos a chegar, com a tacinha na mão!
Quem, até hoje, conseguiu ficar na história de um campeonato do mundo, e logo de futebol, por ter enfiado sete vezes a bolinha na baliza? Além de nós? Ninguém, claro! Os grandes feitos são nossos! País pequeno, mas de grandes feitos!
Como devem ter reparado, o Chá de Sintra também “fez ponte”… Entre festas de aniversários dos filhos, santos populares, festinhas das terriolas circundantes, não sobrou muito tempo.
Eu dei um pulo ao Algarve e, claro, arrependi-me… é que o bom tempo e o sol também decidiram fazer ponte. As nuvens e o vento foram as únicas companhias que encontrei por lá. O Algarve estava feio e tristonho, com pouca gente e muita reclamação dos comerciantes locais. Ainda assim, salvos por alguns persistentes turistas ingleses.
Não sei porquê, mas nesta altura do ano, parecem-me todos feios e gordos. Para além deles, só mesmo uns grupinhos de jovens, muito iguais, muito branquinhas e louras, que sempre se aperaltam no final da tarde e surgem dependuradas dos seus vestidos cai-cai, multicolores, que lhes realçam ainda mais a alvura da pele.
À falta de actividade mais interessante, dei comigo a pensar que talvez seja por causa delas que o sol se esconde, como que gostando de lhes pregar a partida , e acabando por não lhes emprestar aquela cor dourada que tanto devem almejar. Feitas as contas, não me parece justo, pois as meninas pagam a viagem, a estadia, e ainda fazem orelhas moucas aos conselhos que as deviam levar a ficar por casa, ao invés de tão generosamente, virem dar uma mãozinha na nossa crise.
Resultado, apesar de só ter estado fora três dias, regressei cheia de vontade de olhar Sintra, de reaver toda a beleza que dela desfruto ao longo dos meus dias. Aqui, nunca me decepciono, a serra estava linda, como sempre.
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