Gosto de assinalar o regresso às aulas do meu filho, oferecendo-lhe um livro. Não que precise de pretexto para tal, pois como sabem a biblioteca cá em casa é vasta, mas acho sempre que o novo ano escolar também deve ser acompanhado de novas leituras.
Muitas vezes, dou comigo a pensar nos critérios que me levam a escolher e seleccionar os livros neste universo, cada vez mais populoso, que é o da literatura infantil. Lembro-me que, antes de ser mãe, já pensava nisso. Como fazer as escolhas certas ou, pelo menos, as mais adequadas ao crescimento e conhecimento de cada criança. Hoje, sorrio quando penso nisso. Mas não consigo dar um livro ao meu filho, sem primeiro o ler de fio a pavio. Não resisto à tentação, mesmo com aqueles que os outros lhe oferecem.
É certo que tenho os meus autores preferidos, mas o tema, a escrita, ou até mesmo o ilustrador, determinam -me igualmente no acto da compra. O que raramente me acontece, é deixar-me seduzir pelos títulos.
Mas desta vez, foi por aí que os olhos começaram, pelo título! Passei pelo livro e e voltei atrás. Desconfiei do título,confesso! Depois percebi que se tratava de uma edição limitada, numerada e assinada, o que também me deixou…com a pulga atrás da orelha!
Pronto, está bem, eu digo! O livro é este
Agarrei no exemplar 014/300 e quando cheguei ao final da primeira página, não tinha qualquer dúvida de que viria comigo.
Este seria o meu, o nosso!
Assim começa o livro, que nos conta a relação entre neto e avô, narrada por aquele, através do relato dos jogos, brincadeiras, coisas muito sérias, cumplicidades e entendimentos que ambos mantiveram enquanto estiveram juntos. O que se narra é belo e intenso.
"Um dia, o meu avô perguntou-me quais eram as coisas mais belas do mundo, e eu não soube o que dizer". Este é o ponto de partida para, página a página, o menino ir descobrindo e redescobrindo aquelas que são, para si, as mais belas coisas do mundo. E como são belas!
"Eu pensei que os galos eram das coisas mais belas do mundo, por saberem quando começa o dia e reclamarem que todos se levantem. Os galos são os despertadores da natureza, mesmo sem relógio sabem perceber o tempo e cacarejam sempre muito certos.O meu avô era como um galo. Antes de nascer o sol, um bocadinho muito pequeno antes, ele acordava e sabia que começava o dia. A única diferença era que não cacarejava, mas às vezes vinha logo conversar comigo..."
Esta é apenas uma das mais belas coisas do mundo, que este menino descobre com "as pistas" deixadas por um avô sábio, que um dia lhe tinha perguntado se "o mais belo do mundo, não seria fazer-se o que se sabe e pode para que a vida de todos seja melhor".
Descobertas feitas de crescimento, feitas num tempo em que o avô já não está ao seu lado, porque como ele nos conta, "quando eu fiz dez anos, o meu avô precisou de morrer...". Mas deixou-lhe as pistas necessárias para desvendar os mistérios da vida, entre os quais, descobrir as mais belas coisas do mundo.
Pode ser que a forma como ficámos presos ao livro, advenha da similitude da situação vivida pelo meu filho, uma vez que também ele já viu o seu cúmplice nos mistérios da vida ficar cansado. Também ele acha que uma das coisas mais belas do mundo é a figueira grande que o avô nos deixou no pomar, sendo, seguramente, nela que ele descansa na maior parte do tempo… Mas este é, acima de tudo, um livro lindo, porque apaziguador!
Ofereci o livro ao meu filho, dizendo-lhe que era daqueles que ele deve ler sózinho, embora eu me ajuste ao seu lado. Leu-o ininterruptamente, sem pestanejar, sorrindo de vez em quando e às vezes nem por isso...
É lindo, mãe! A história dele é tão igual à minha, disse-me no fim. Acrescentando,“ele” escreve as coisas de uma forma tão bonita e que me "descansa" tanto!
Ali mesmo, pedi desculpa por todas as pulgas que estiveram atrás da minha orelha, e agradeci a alguém , ter desenhado no papel , tantas das palavras que muitas vezes já correram cá por casa e ainda, muitas outras...
Read more...