Amigos Para Sempre

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Há dias, em conversa com uma amiga, confessava-me ela as suas inquietações acerca do medo que o filho, de cinco anos, aparenta ter do escuro. Digo aparenta porque, de uma forma ou de outra, penso que todas as crianças passam por uma fase destas, acabando sempre por sair vitoriosas da uma guerra contra “papões”, monstros e toda a espécie de criaturas assustadoras que estão associadas ao escuro. Com mais ou menos alarido, por vezes até em surdina, todas elas travam as suas batalhas, noite após noite. E todas se vão afeiçoando a esse amigo, de quem acabam por se tornar íntimas, para  toda a vida.


O segredo está, penso eu, na forma como nós,adultos, os munimos das “armas” adequadas para essas batalhas noturnas. No caso desta minha amiga, costumo brincar e dizer-lhe que considero o filho dela um herói! Isto porque, ainda hoje, ela própria não consegue enfrentar bem os monstros com que pensa cruzar-se, sempre que apaga a luz… Como podemos ensinar alguém a conviver com o escuro, a mergulhar naquele que será o nosso primeiro contacto real com o “mistério”, se nunca tivermos saltado para dentro dele? Deve ser por isso que gosto tanto deste livro de Mia Couto, que nos faz ter vontade de saltar repetidas vezes para dentro do escuro...


Esta é a história de um pequeno gato, que se sente absolutamente fascinado pelo escuro, pelo mistério que ele encerra, mas, ao mesmo tempo, tem presente os avisos da mãe, para que não se afoite no desconhecido.

A curiosidade acaba por ser mais forte que o medo do castigo e o nosso Pintalgato lança-se inteirinho no escuro. Quando finalmente se conhecem, este diz-lhe " Sou eu, o escuro.Eu é que devia chorar porque olho tudo e não vejo nada".


 
No momento em que é surpreendido pela mãe, e ao invés do esperado castigo por ter pisado o risco, Pintalgato e o escuro tornam-se irmãos... Sonho ou não, o final do livro fica por conta da imaginação dos leitores.
Quem gosta de Mia Couto (será possível não gostar?) encontra neste livro, magnificamente ilustrado por Danuta Wojciechowska,  um gato com os olhos a pirilampiscar, que só ousou despersianar quando chegou na outra margem do tempo.

Para os mais pequenos, lembro-me sempre de uma história de Maria Alberta Menéres, "Devagarinho", do livro Histórias de tempo vai tempo vem. É uma história simples que nos encanta e ensina. Nem tudo o que pensamos ver, existe...




Finalmente, tranquilizem-se os pais mais inquietos, pois há uma altura em que todos os nossos filhos vencem heroicamente qualquer bicho papão que tenha a aleivosia de lhes aparecer no escuro. E este torna-se um amigo para sempre.

 Foi o que aprendi com as respostas que obtive na sala de aula do meu filho, quando há uns tempos  perguntei aos meninos o que pensam do escuro.

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