Arte em Amesterdão

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

As viagens fazem-nos pensar. Comparamos constantemente o que vimos com aquilo que conhecemos na nossa terra. Algo que me impressionou nesta viagem a Amesterdão foi constatar que não há na cidade e seus arredores um único prédio podre ou a cair.


Pelo contrário, em Portugal, especialmente nas cidades, o difícil é encontrar uma rua que esteja inteiramente arranjada.
No minúsculo centro histórico da vila de Sintra, há pelo menos meia dúzia de edifícios devolutos, destacando-se o Hotel Netto, junto ao Hotel Tivoli. Sempre que lá passo, penso que não tardará a cair.




Como é possível?

Em Lisboa, em plena Av. da Liberdade há prédios inteiros emparedados. Como justificar esta diferença?
Há uns anos ouvi alguém dizer que há duas formas de destruir uma cidade: bombardeando-a ou congelando as rendas. Sofremos deste último mal, é certo. Mas será esta a única razão para este infeliz estado de coisas?

Este post não era porém sobre conservação de cidades. Antes sobre alguns quadros que vi em Amesterdão e que me impressionaram. Era esta beleza que gostava de partilhar.

Os mais conhecidos pintores holandeses são, seguramente, Vicent van Gogh e Rembrandt. Talvez o primeiro, mais recente, seja mais famoso.
É obrigatório, em Amesterdão, visitar o Museu Van Gogh.
São sobejamente conhecidos os seus auto-retratos - pintou mais de 40 porque não tinha dinheiro para pagar a modelos. Achei graça aos sapatos do Van Gogh, cúmplices dos seus longos passeios a pé pela Holanda e pela França rurais onde viveu.


Rembrandt (1606-1669)  é famoso por quadros como a Rapariga do Brinco de Pérola (talvez mais conhecido pelo filme com o mesmo nome) ou a Ronda da Noite. Gostei muito de ver Rembrandts, especialmente um não tão conhecido, mas verdadeiramente encantador. Intitula-se a Noiva Judia e está rodeado de algum mistério. Não se sabe quem são as personagens, nem o que representam.



Mas basta pousar os olhos para ver transparecer um amor profundo, sentir as cores quentes (o vermelho do vestido é espantoso, o dourado da manga assume um volume impressionante para as duas dimensões do quadro) transmitirem a ternura do casal.

Se tudo isto me encantou no Rijksmuseum em Amesterdão, o que mais me fascinou, e um pouco surpreendentemente, foram as naturezas mortas. Deleitem-se com estas três maravilhas!


Natureza morta com queijos, de Floris van Dijck (c. 1615-20)



    Natureza morta com tarte de peru, de Pieter Claesz

E a minha preferida - reparem como o mesmo tom cinza enche todo o quadro, apenas destoando o dourado da taça e o amarelo do limão; como a luz é magnificamente trabalhada em todas as peças do quadro; como a encenação dos objectos é perfeita.


Natureza morte com taça dourada, de Willem Claezs Heda (c. 1635)

Todos estes quadros são do sec. XVII, encenando mesas daquela época. Evidentemente não são mesas normais, mas ricas, riquíssimas. Todos os ingredientes são dos mais luxuosos para a época. A pimenta em pacotinhos de papel enrolado era na altura caríssima. Os queijos, enormes, só ao alcance dos mais ricos. O pão, branco, feito de farinhas refinadas, apenas era acessível aos mais abonados. As ostras, ainda hoje, só chegam às mesas mais abastadas.

Reparem também na louça, na porcelana chinesa, nos copos ricamente decorados, nos jarros e nas taças de ouro, nos lindíssimos punhos das facas.

São mesas luxuosas. Mas mais do que luxuosas, são requintadas. As toalhas impecavelmente brancas, impecavelmente engomadas, ainda bem vincadas. A mesa parece ter sido abandonada naquele momento, mas está ainda cheia de comida, como se os comensais não se importassem com o desperdício, como se displicentemente deixassem para os criados os restos do seu selecto manjar.

Talvez  não seja uma mensagem muito politicamente correcta nos dias de hoje, mas a riqueza, o luxo, o bom gosto, o bom viver, deixam-me verde de inveja!

1 comentários:

Anónimo,  26 de agosto de 2010 às 19:06  

A revista Nós fez uma edição dedicada ao egoísmo - Nós Egoistas. Um dos temas eram os prédios devolutos, muitas vezes presos por heranças ou por os proprietários insistirem em preços impraticáveis. Nunca achei que a palavra egoísmo fosse tão bem empregue.

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