Estranha forma de Vida

terça-feira, 20 de julho de 2010

1. Vivo em Sintra há cerca de dez anos. Muito aprendi com os “humores” do tempo na Serra e com os costumes e tradições dos seus habitantes.


Ao princípio confesso que estranhei a mudança de vida. Sair da cidade para viver no campo exigiu um período de adaptação.
Lembro-me como de início me incomodava o tempo, o clima húmido e nebuloso, que surge sempre sem avisar e nos faz vestir uma camisola na praia, em pleno dia de Verão. Hoje sinto um enorme prazer por esta frescura da Serra, que lhe dá um encanto misterioso e uma identidade própria. Sabe sempre bem regressar a Sintra, sobretudo quando vimos do ar quente e abafado de Lisboa…É graças a estas condições que a Serra está pintada por diferentes tons de verde, que me fascinam.
Nesta década de vida, também conheci as “gentes e os costumes” das diversas regiões da zona; Várzea de Sintra, Galamares, Colares, Almoçageme e Penedo.
Deixei de fazer compras nos grandes supermercados, para encontrar nas mercearias locais uma enorme satisfação. Cumprimento e converso com os comerciantes, que simpaticamente me saúdam e comentam o crescimento rápido dos meus filhos. Que bom que é viver assim… Escolho a fruta e os legumes, que por serem daqui têm um sabor especial.


Em Sintra, descobri espaço para falar e para ser ouvida, não tenho tanta pressa de viver, consigo tirar maior proveito do dia-a-dia. Não tenho longas filas de trânsito, nem o frenesim da cidade em final de dia. Bem sei que é difícil encontrar uma livraria ou uma loja de roupa por esta zona. As lojas existentes são sobretudo de bens essenciais, mas graças a isso esqueço-me do consumismo stressante e absorvente das cidades.
Confesso que por vezes sinto algumas saudades dessa correria, mas agora contemplo de outra forma a cidade, que por ser mais rara se tornou mais curiosa em certos aspectos. Por exemplo, gosto de ir passear pelo Chiado ou pela Baixa, no final do dia.Tenho um olhar diferente, mais atento, tal como se fosse uma turista encantada pela cidade desconhecida.


Descobri muitos campos agrícolas, que embelezam a paisagem e enriquecem a vida de cada sintrense. Há muitas terras removidas e cultivadas, que ainda hoje garantem a subsistência desta população. Este modo de estar é contagiante. A terra tem um valor incalculável e é valorizada. Eu também criei a minha horta, acompanho o crescimento de tudo o que planto e encontrei uma satisfação inexplicável por comer algo que produzo.



Em Sintra somos induzidos a esta forma “estranha” de vida. Mudamos! Perdemos algumas coisas é certo, mas ganhamos uma nova postura na vida, com a qual me identifico totalmente.

2. Mudei para Colares em 2002, tinha o meu filho mais velho 1 ano. Vivi toda a vida em Lisboa, mas sempre passei em Sintra (Colares, Praia das Maçãs) fins-de-semana e férias. Os meus pais têm por cá uma casa de férias, assim como os meus sogros. Foi aqui que conheci o meu marido e sempre sonhámos viver por estas terras.
Esse sonho cumpriu-se surpreendentemente cedo, pouco depois do início da nossa vida como casal.
Quando mudámos de Lisboa para o Banzão, todos os nossos amigos e familiares nos acharam doidos. O quê?! Fazer a IC19 todos os dias?! Como é possível?! Ainda hoje o espanto é generalizado quando digo a colegas de trabalho que vivo aqui. Costumo responder: não há bela sem senão.

Quando me dizem: «tenho muita sorte, vivo a 5m do trabalho», eu cá penso: que horror! Eu vivo bem longe.
Há algum tempo que larguei o carro e vou para Lisboa de comboio. Da Portela de Sintra a Lisboa são 40m certinhos, nunca há atrasos, é uma maravilha! Em Lisboa, os transportes públicos são excelentes, de metro, de autocarro ou a pé, não há sítio que fique muito longe.

Sinto-me muito europeia com esta opção - viver fora da cidade, usar os transporte públicos - e não compreendo bem a necessidade de estar enfiada numa gaveta no meio do barulho e andar sempre de carro. (Impressiona-me sempre o facto de as pessoas que conheço em Lisboa nunca, mas nunca, usarem os transportes públicos da cidade.)

Regressar a Sintra, ao silêncio do vento nas árvores, compensa quaisquer 60m de caminho. Para mim compensa e muito. O fim-de-semana começa à 6ª e só acaba na 2ª, aproveita-se mesmo a vida no campo.

Há desvantagens, claro que as há. Mas as vantagens são muitíssimos superiores. A vida organiza-se de outra maneira, as opções profissionais encaradas com outros olhos. Para quê correr toda a vida? Por que não antes gozá-la?

Eu acredito na qualidade de vida.

3 comentários:

Zé Maria 20 de julho de 2010 às 13:25  

Posso fazer uma sugestão: assinem os vossos artigos no blog, nem que seja com iniciais.
Obrigado.
ZM

Marias sem Anas 22 de julho de 2010 às 08:18  

O Chá é como Sintra, gosta do seu mistério...

Anónimo,  22 de julho de 2010 às 23:18  

sei quem és!!! e adoro como me fazes pensar sobre o q escreves...um beijinho grande! Aliás sou da opiniao q assim é mt mais giro pq através das palavras podemos adivinhar quem é a misteriosa da semana...e para quem vos conhece é tão facil! adoro-vos a todas bjs e boas ferias <3

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