Mais emocionais, mais complexas e mais belas

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Num blog feito por mulheres, não poderíamos deixar passar duas iniciativas culturais que lhes são inteiramente dedicadas.
Não que nos habite qualquer espírito femininista - longe disso! - mas porque há uma identidade muito nossa e uma história de só recente reconhecimento.
Se há algo que o fim do século XX trouxe e o XXI confirmou, é que a História deixará de ser coisa de homens para passar a ser obra de todos.

O primeiro destaque vai para um ópera estreada em Março, composta por uma mulher, cantada exclusivamente por uma mulher e dedicada à história de uma mulher.
A compositora é a finlandesa Kaija Saariaho, considerada uma das mais importantes compositadoras de música erudita da actualidade.
Deixo-vos esta pequena peça - não é fácil, mas é inovadora. Se se deixarem levar, vão gostar seguramente.




Saariaho compôs uma ópera sobre a vida de Émilie du Châtelet (1706-1749), uma mulher independente do século XVIII, que se dedicou à física e à matemática.



De acordo com Voltaire, seu amante, Émilie foi «um grande homem cujo único defeito era ser uma mulher».

A única intérprete desta ópera é a mais conceituada soprano da actualidade, Karita Mattila, também ela finlandesa.


Três mulheres talentosas, inteligentes, independentes. E já agora, bonitas.

A ópera é uma encomenda conjunta da Opéra National de Lyon, do Barbican Centre (Londres) e da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi estreada em Março pela Nederlandse Opera em Amesterdão. Não se sabe se virá a Portugal. Esperamos que sim!
O segundo destaque vai para o filme de Abbas Kiarostami, «Shirin», onde o realizador iraniano mostra os rostos de uma centena de mulheres durante 1 hora e meia. As mulheres assistem a um filme sobre a história de Shirin, uma princesa arménia que se apaixonou por um rei persa. Uma tragédia amorosa, como não podia deixar de ser. Deste filme nada vemos, apenas assistimos quem assiste - as 114 mulheres/actrizes do filme de Kiarostami.
Este é o trailer:





O filme é algo perturbador e a mensagem que pretende transmitir não é inteiramente clara. Calculo que para a maioria das pessoas será idiota gastar tanto tempo a ver um bando de mulheres de lágrima no canto do olho. Para outros, há mensagens políticas, ligadas ao estatuto inferior ao homem que a mulher tem, ainda, no Irão.
Mas para mim, esta sequência de imagens representa a sensibilidade feminina, o sentimento acima de tudo, a capacidade de nos emocionarmos com as coisas bonitas da vida sem receio de o demonstrar. Pieguice, dirão os homens. Sensibilidade (e bom senso), como disse há muito Jane Austen e nos ficou no memória.

Nas palavras de Kiarostami: "a minha impressão é que as mulheres são, em geral, não apenas no Irão, mais emocionais, mais complexas e mais belas."

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