Adoro a Primavera

terça-feira, 27 de abril de 2010

Adoro a Primavera. Bem pensando, adoro todas as estações no ano quando estão no princípio. Por isso, agora adoro a Primavera. Sobretudo depois do mais chuvoso, tristonho e enfadonho Inverno de há tantos anos.

Para a comemorar nada como a música e a poesia, de preferência juntas.

Rilke, Rainer Maria Rilke , um poeta do início do sec. XX, uma referência intemporal do bom gosto e da sensibilidade.

Estou a ler as Elegias de Duíno (na tradução de Maria Teresa Dias Furtado, editado pela Assírio & Alvim). Escritas no Castelo de Duíno, magnífico e imponente sobre o Adriático.



(o que deve ser difícil é não escrever poesia num sítio destes).

Eis a magnífica passagem n’ A Sétima Elegia sobre a Primavera:

Oh! e a Primavera compreenderia -, não há recanto
a que não chegue o som da anunciação. Primeiro aquele
breve articular interrogativo, que no crescente silêncio,
um puro dia de afirmação vastamente envolve na sua mudez.
Depois subir degraus, os degraus do apelo, até ao sonhado
templo do futuro-; depois o gorjeio, fonte
que antecipa o jacto em ascensão
num jogo de promessas…”

Por coincidência (ou não) comprei a semana passada a Sagração da Primavera de Igor Stravinsky. É um bailado escrito por esta altura também, no início do sec. XX, estreado aliás em Paris em 1913, onde provocou um enorme escândalo na audiência conservadora do Teatro dos Campos Elísios. Tanto assim foi que passados meros 5m o caos instalou-se na plateia, impedindo os músicos e bailarinos de continuar. Engraçado imaginar uma cena destas num palco actual.
Hoje é um marco da música erudita e ninguém duvida da sua genialidade.

Devo confessar que é uma música que me fascina, como poucas outras. Tenho a sensação de estar num bosque com pássaros, veados, animais de toda a espécie, caçadores, trovões, brisas suaves. A natureza no seu esplendor, nascendo, renascendo, caótica, magnifica. Em simultâneo ameaçadora e deslumbrante.
(Bem sei que a história do bailado não é propriamente esta, mas outra, mas é de sensações pessoais, claro, que falo).

Lembro-me, quando mudei de Lisboa para Sintra, que uma das diferenças mais avassaladoras é o silêncio. O barulho da cidade é ensurdecedor, é puro ruído. Em Sintra aprendi verdadeiramente a ouvir – no silêncio.

E para terminar com o silêncio ensurdecedor da natureza, deixo umas fotos do meu jardim, a renascer nesta belíssima Primavera.


Maravilha, não?

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