"A Nossa Escola"

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O que nos leva hoje a falar tanto de Educação? A vontade de não repetirmos erros que percorrem gerações? O desejo de alterar um sistema que sempre nos “empurrou” para fazer algo pela vida ao invés de nos ensinar a descobrir o melhor que lhe podemos dar? Seguramente, uma determinação colectiva em ajudar crianças e jovens a desenvolver todas as suas aptidões, para que um dia possamos ter um mundo de pessoas mais felizes.
Talvez por isso, a relação escola-família se tenha tornado uma abordagem recorrente sempre que pensamos ou falamos de Educação. Todos sabemos que o ideal para os nossos filhos seria que entre ambas existisse uma boa relação de complementaridade. Que, na prática, se conseguisse uma grande proximidade entre estas duas famílias, que desde cedo partilham a essência e a vida deles. A sua família, em casa, e aquela outra com quem passam a maior parte do dia – professores, educadores, auxiliares, coleguinhas e amigos. Sendo eles os maiores beneficiados, certamente todos saímos ganhadores.

Também  talvez por isso, hoje apetece-me falar “da nossa escola”.
É assim que nos referimos à escola que o meu filho tem o privilégio de frequentar há seis anos. Do mesmo modo que falamos “da nossa casa”.

Na nossa escola, há uma família e tudo o que a ela é inerente. Os meninos são amados e acarinhados, mas conhecendo regras e limites. Cada um, respeitado na sua individualidade e nas diferenças que transporta. Nesta escola, não há segredos e, tal como em casa, as crianças conhecem-lhe todos os cantos e recantos.
Também não há directores, mas sim um tio e uma tia. Não com qualquer afectação social, que hoje tantas vezes atribuímos à figura, mas com a mesma carga de ternura que o laço sanguíneo pressupõe. Essa é a fórmula carinhosa desde sempre encontrada para que os meninos saibam que também ali está uma parte da sua família. E de que forma…
















Esta é uma escola onde as pequenas coisas são trabalhadas, para que as grandes decorram com êxito. Para isso, contribui a entrega sem limites da família que a gere. Entrega, sabedoria e sensibilidade com que no dia a dia cuidam das crianças que lhes confiamos. E, claro está, da equipa de colaboradores de que sabem rodear-se, desde auxiliares, educadoras a professores.

Os meninos vão felizes para a escola e é com naturalidade que lá passam os dias, entretidos, a adquirir conhecimentos… porque natural é, também, que os pais ou os avós passem por lá. É  que a nossa escola está sempre aberta. A qualquer hora podemos entrar, não precisamos de motivo ou aviso prévio.

Desde cedo, os meninos sabem que aquela família e a sua se complementam, que unem esforços e vontades em torno do mesmo objectivo - dar-lhes asas para os ajudar a serem pessoas fantásticas e, acima de tudo, felizes.



Na nossa escola, temos a semana do pai, a semana da mãe, a festa dos avós. E, acreditem, o empenho com que se desenrolam é tão grande de um lado e de outro,que muitos de nós chegam a reservar alguns dias de férias para brindar os filhos com a sua presença. E que felizes e agradecidos eles ficam!

Temos as semanas da leitura, da ciência, da matemática… a semana da amizade, em que todos depositam cartas no marco do correio… o dia da poesia. Mas temos tudo isto, e muito mais, de forma partilhada.

A nossa escola tem um fórum, actualizado diariamente, onde podemos ver desde a ementa semanal às actividades desenvolvidas sala a sala. As frases mais comuns são “pais venham ver os nossos meninos”, “ pais venham participar”!

Aqui, é prática corrente a família participar do quotidiano da escola, contando uma história, falando da sua profissão ou, simplesmente, fazendo biscoitos com a criançada.


Depois da história contada pela mãe Joana, os meninos do 1ºano fizeram este trabalho

Esta é também uma escola solidária. Quando um menino está doente, os amigos telefonam-lhe para o animar. E, se for caso disso, recebe a visita da professora e dos restantes amigos em casa. Quando as professoras ou os tios estão doentes, os meninos perguntam por eles e os pais preocupam-se… afinal, são a nossa família!

É uma escola construída em cima de afectos, onde a amizade perdura para além da distância.Os que vão saindo não a esquecem, nem são esquecidos.

Na nossa escola, os pais encontram-se ao final da tarde, quando vão buscar os filhos, e ficam à conversa, naquele que é também o seu espaço. Talvez  por isso , seja tão difícil trazer a rapaziada para casa.Tudo ali quer continuar…Por brincadeira, sempre digo, que lhes põem pózinhos de perlimpimpim no leite!

Há pouco tempo, decorreu a semana da mãe, este ano em simultâneo com a da leitura.Na nossa sala, foi-nos pedido para preparar uma surpresa para os meninos, com base numa obra do plano nacional de leitura. Agarrámos no “Abecedário Maluco”, da Luísa Ducla Soares, virámo-lo de pernas para o ar e compusemos uma música rap. Fizemos uma entrada triunfal por aquela escola, vestidas a rigor, capazes de deixar roídos de inveja os mais fiéis militantes do estilo, que nos tivessem posto o olho em cima. Fomos uma hora mais cedo para o ensaio geral na sala da direcção.



” Isto só é mesmo possível nesta escola”, comentou alguém. É verdade, e sabemos que temos um património conjunto que não voltaremos a ter em mais nenhum outro sítio! Já agora, asseguro-vos que a criançada ficou em delírio depois da actuação, embora no momento em que fomos anunciadas, o primeiro comentário tenha sido –“ A minha mãe? A cantar rap? Ai que vergonha!”



O êxito foi total e no final fomos recompensadas com a oferta de um sushi feito pelos meninos.

Mas não são só as famílias que usufruem desta forma sensível e afectuosa de funcionar, os laços estabelecem-se igualmente com o exterior.



O ano passado, numa iniciativa bonita, a escola abriu as portas à comunidade local, convidou as pessoas da terra a partilharem saberes com as nossas crianças. Resultado, os meninos, deleitados, ouviram histórias e lendas contadas pelos  mais velhos…e claro, gostaram muito! De vez em quando, homenageiam-se vultos da cultura local. E, amiúde, os meninos são levados pela tia à descoberta dos cheiros, dos mistérios da nossa terra, ou simplesmente, ao encontro das ovelhas…

Recentemente, o Chá de Sintra teve a ideia de organizar um pólo de troca de livros. Apetece-nos partilhar leituras mas precisamos de um espaço para o fazer. A todas ocorreu que o sítio ideal seria “a nossa escola”.
“Claro que sim, é uma ideia fantástica”, foi a resposta da nossa querida Sofia!
Vamos deitar mãos à obra!

Porque, às vezes, só percebemos a grandeza do que temos quando se acaba, aqui fica a homenagem do Chá de Sintra a uma escola que tanto contribui para que os nossos pimpolhos cresçam felizes, amando e sendo amados, e assim nos ajuda a sermos famílias mais confiantes!

Com a certeza que só quem por cá passa sabe do que falo!



5 comentários:

Anónimo,  1 de junho de 2010 às 13:07  

Sei bem do que falas!!!E das saudades q ficam quando partimos....mas felizmente o carinho e a amizade permanece muito para alem das 9-17h tal como numa familia e eu só espero regressar a tempo do Joaozinho fazer o 1º ciclo aí e voltar a fazer parte do dia-a-dia do Catarina de Bragança!E para voces, bloggistas, ATÉ JÁ!!!!!

Anónimo,  26 de outubro de 2010 às 23:45  

que bela escola!mas sabe quando se imigra( veja lá dentro do mesmo país) sofre-se muito...não há horas para acompanhar as crias, sempre a trabalhar nas coisas que os da terra não querem fazer, assim é a vida dos imigrantes, sem tenpo para fazer turismo, mas apenas trabalhar, trabalhar para merecer aquilo que se ganha, ou não!pode ser que venha mudar as escolas da ilha e dê um tom colorido cheio de borboletas e cortinados de banheira, mas primeiro omece a trabalhar, sim, seja útil.

Anónimo,  29 de maio de 2012 às 15:52  

O meu filho vai entrar no próximo ano lectivo para o colégio Catarina de Bragança para a sala dos 5 anos. Para isso contribuiu também este post e a partir daí fiquei também fã deste blog (eu, que nao sendo de Sintra, já tenho um carinho imenso por esta zona). A minha única pergunta é (e seria muito bom ter o vosso feedback a este respeito): como é que foi a saída dos vossos filhos (que pelo que percebo já não estão no colégio)? Estavam bem preparados para enfrentar o mundo e o ensino lá fora, nomeadamente no ensino público? Obrigada!

Marias sem Anas 31 de maio de 2012 às 23:55  

Olá. O meu filho entrou este ano para uma escola pública, onde se integrou fantasticamente.É um aluno de excelência como muitos outros que passaram por esta escola. Sim, para além de tudo o resto, também o projecto educativo é muito bom e os nossos meninos saem muito bem preparados.A escolha foi, sem dúvida, a melhor.Já agora, espero que um dia destes nos possamos encontrar...

Anónimo,  8 de junho de 2012 às 12:12  

Muito muito obrigada pela resposta. A nossa intenção seria também integrá-lo numa escola pública após a escolaridade básica; é muito reconfortante saber da sua experiência. Seria muito bom encontrar-vos; adoro o vosso blog e temos muitos pontos comuns de interesse. Nós vivemos muito perto do Gourmet da Maria (do qual já percebi também são fans); quem sabe nos possamos encontrar por lá uma vez que os vossos filhos já não estão no Catarina. Para o ano começa a nossa rotina direcção Morelinho :o). Um abraço de agradecimento, Raquel Santos

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